Medicina personalizada e farmacogenômica

Esse é um caminho da medicina que permite o ajuste de medicamentos e dosagens de acordo com o perfil genético de cada paciente. Essa pesquisa é chamada de “farmacogenômica”.

Por meio dela, é possível investigar como a herança genética influencia a maneira que o organismo metaboliza e responde aos medicamentos, aumentando ou diminuindo sua eficácia e outras características.

Isso explica por que um mesmo remédio pode ter efeitos distintos em diferentes pacientes. Alguns indivíduos, por exemplo, podem sofrer reações adversas graves a uma substância, enquanto outros a toleram bem, mesmo com dosagens semelhantes.

Os benefícios da farmacogenômica são variados, mas entre os principais estão:

  • Mais segurança para o paciente: reações severas a medicamentos são responsáveis por muitas internações. A farmacogenômica ajuda a identificá-las antes que aconteçam.
  • Mais eficiência e economia nos tratamentos: o uso da farmacogenômica permite encontrar rapidamente o medicamento e a dosagem ideais para cada paciente.

Aplicações no tratamento de câncer

  • Câncer colorretal: o quimioterápico irinotecano é comumente utilizado nesse tipo de câncer. No entanto, alguns pacientes apresentam uma variação genética que reduz a produção da enzima UGT1A1, responsável por metabolizar o medicamento. Sem essa enzima em quantidade suficiente, o irinotecano pode se acumular no organismo, causando efeitos colaterais graves. Um teste genético pode identificar esses pacientes, permitindo ajustes na dose para manter a eficácia do tratamento com menor toxicidade.
  • Leucemia linfoide aguda (LLA): em crianças com LLA, cerca de 10% apresentam alterações na enzima TPMT, que metaboliza a quimioterapia utilizada no tratamento. Pacientes com níveis reduzidos dessa enzima podem sofrer efeitos adversos graves se receberem a dose padrão. Por isso, um teste farmacogenômico pode ser feito para ajustar a dose e evitar complicações.
  • Outros tipos de câncer: o fluorouracil, usado contra cânceres de cólon, mama, estômago e pâncreas, é metabolizado pela enzima DPD. Alguns pacientes têm uma variação genética que reduz a produção dessa enzima, aumentando o risco de efeitos colaterais. Com um teste genético, médicos podem identificar esses casos e ajustar a dosagem do fluorouracil, para um tratamento mais seguro.

Principais biomarcadores

O oncologista pode escolher entre diferentes perfis moleculares para analisar tumores, utilizando diversas tecnologias para detectar biomarcadores como genes, proteínas e moléculas específicas. Os principais métodos incluem:

  • Imuno-histoquímica (IHC): identifica proteínas nas células.
  • CISH/FISH: detecta alterações genéticas.
  • Sequenciamento de próxima geração: analisa mutações e fusões genéticas.
  • PCR quantitativa: amplifica e mede DNA alvo.

Os testes são geralmente feitos a partir de tecidos obtidos por biópsia, mas a biópsia líquida já permite detectar biomarcadores no sangue.

Apenas lembre-se de que é o médico oncologista quem define o exame mais adequado para cada caso.

Tratamento tumor-agnóstico

O tratamento tumor-agnóstico é uma abordagem inovadora que trata qualquer tipo de câncer, independentemente do órgão de origem, desde que o tumor tenha um alvo molecular comum.

Diferentemente da quimioterapia tradicional, essa estratégia usa testes genéticos e moleculares para identificar terapias mais eficazes para cada paciente, impulsionando a medicina de precisão no combate ao câncer.

Um exemplo é a fusão do gene NTRK, presente em alguns tumores de diferentes órgãos, mas que responde a um tratamento específico.