Entenda a relação entre doenças reumatológicas e o câncer e quais são os principais exemplos dessa conexão.
A interação entre a Oncologia e a Reumatologia tem se tornado cada vez mais essencial para o diagnóstico e o tratamento de diversas condições de saúde. Isso porque existe uma relação complexa entre doenças reumatológicas e câncer. Para facilitar a compreensão desse tema, vamos abordar essa conexão sob três perspectivas principais.
1. Quando o câncer causa sintomas reumatológicos?
Em alguns casos, o câncer pode se manifestar por meio de sintomas reumatológicos, seja diretamente, com metástases, ou por meio de síndromes paraneoplásicas. Essas síndromes ocorrem quando o câncer desencadeia sintomas que não parecem estar diretamente relacionados à doença, podendo imitar condições reumáticas.
Exemplo:
Uma paciente apresenta sintomas clássicos de dermatomiosite, uma doença autoimune caracterizada por inflamação muscular e lesões cutâneas. No entanto, durante a investigação, descobre-se que ela tem câncer de mama. Após o tratamento do câncer, os sintomas musculares e cutâneos desaparecem completamente, demonstrando que esses sinais eram, na verdade, manifestações da doença oncológica.
2. Quando doenças reumatológicas aumentam o risco de câncer?
Pacientes que já têm uma doença reumatológica diagnosticada podem ter um risco maior de desenvolver câncer. Isso pode ocorrer devido à inflamação crônica, ao uso prolongado de terapias imunossupressoras ou a fatores de risco inerentes à própria doença.
Exemplo:
Um paciente com artrite reumatoide não tratada mantém níveis elevados de inflamação por um longo período. Esse quadro favorece o desenvolvimento de um linfoma, um tipo de câncer do sistema linfático.
3. Quando o tratamento do câncer desencadeia doenças reumatológicas?
Determinadas terapias oncológicas podem estimular uma resposta imunológica exacerbada, levando ao desenvolvimento de doenças autoimunes. Um exemplo são os inibidores de checkpoint imunológico, medicamentos que potencializam a ação do sistema imunológico contra o câncer, mas que, em alguns casos, podem provocar inflamações autoimunes.
Exemplo:
Um paciente com câncer de pulmão avançado é tratado com pembrolizumabe (inibidor de checkpoint). Após dois meses de tratamento, ele desenvolve artrite reumatoide, evidenciando um efeito adverso da medicação.
A importância da colaboração entre Oncologia e Reumatologia
Diante dessas interações complexas, é fundamental que oncologistas e reumatologistas trabalhem juntos para garantir um diagnóstico preciso e um tratamento integrado. Essa colaboração permite uma abordagem mais completa, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e otimizando os resultados terapêuticos.
Por Dra. Maria da Glória Costa Reis Monteiro de Barros, reumatologista e coordenadora do Centro de Infusão Não Oncológica do Hospital São José de Teresópolis