Eu fazia o ultrassom de mamas desde os meus vinte e poucos anos e comecei a realizar também a mamografia a partir dos 35. Não sei por qual motivo o ginecologista passou a me pedir esse exame nessa idade, já que a recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia é que a mamografia seja feita anualmente a partir dos 40 anos. De qualquer maneira, ter câncer de mama era uma ideia bem distante.
Eu me lembro de saber que a doença é curável em estágio inicial e de minha mãe dizer que eu nunca a teria, porque não havia casos na família. Só depois, quando tive a doença, descobri que apenas 10% dos casos de câncer de mama são de origem hereditária. Quando eu estava com 40 anos e tentando engravidar, me deparei com o diagnóstico, que simplesmente me tirou o chão. Passei às pressas por um tratamento de preservação da fertilidade, já que o tratamento oncológico poderia me deixar infértil, e ingressei numa jornada árdua.
O meu tumor foi inicial, com um bom prognóstico. Certamente isso me fez passar mais tranquila e forte por todo o processo. Foram 16 sessões de quimioterapia, 33 de radioterapia e uma quadrantectomia (cirurgia de retirada de um quadrante da mama). A pior parte foi, sem dúvidas, a quimioterapia. Os efeitos colaterais, no meu caso, foram muito além do enjoo e da perda dos cabelos. Fui resiliente durante o câncer de mama. Procurei ver o lado bom e tirar lições dessa experiência. Contei com uma rede apoio que me fortaleceu e fez muita diferença para que eu passasse da melhor forma possível pela dor.
Por que eu tive câncer de mama? Ninguém sabe. Ouvi de uma médica mastologista que “basta ser mulher e envelhecer para ter câncer de mama”. Sabe-se que a prática de exercícios físicos, boa alimentação e boa qualidade de sono reduzem o risco para a doença. Eu incluiria que perseguir caminhos felizes também.
Não fui mãe, pois o tratamento de preservação da fertilidade não deu certo. Hoje, lido com algumas dificuldades enfrentadas pelas mulheres que passam pelo câncer de mama, como a menopausa sem reposição hormonal. Essa fase tem sido um enorme desafio para mim.
Um aprendizado que o câncer me trouxe foi o de perceber que a estrada da vida, muitas vezes, sofre desvio de rota, e estarmos preparados para a mudança, com serenidade, é a chave para a felicidade. Assim, conseguiremos descobrir outras possibilidades que esse novo caminho pode nos apresentar. Muitas vezes, até melhores do que o anterior. Saber que hoje a minha história serve de inspiração para quem passa pela doença e de alerta para as mulheres em geral, sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, me traz alívio e alegria.