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Acolhimento, humanização e transparência no tratamento oncológico

Entrevista com Dr. Antônio Cavaleiro, coordenador do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Santa Catarina – Paulista

Tão importante quanto o próprio tratamento oncológico, proporcionar um atendimento humanizado pode tornar a experiência do paciente mais confortável e fazer com que ele encare esse processo de forma mais leve e positiva. Muitas vezes, ao chegar em um consultório ou hospital, o paciente está em uma posição de insegurança e fragilidade, necessitando de cuidados tanto com sua saúde quanto com seu psicológico. Saber identificar essas vulnerabilidades faz toda a diferença na vida de um paciente e ainda pode contribuir no seu processo de recuperação. O que realmente faz a diferença no atendimento humanizado é a capacidade de se colocar no lugar do outro, saber ouvir, respeitar suas dificuldades e amparar sempre que preciso. A experiência do paciente não se resume apenas ao atendimento médico, mas também deve estabelecer uma relação de confiança. Confira a entrevista completa que realizamos com o Dr. Antônio Cavaleiro, coordenador do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Santa Catarina – Paulista, sobre a importância do atendimento humanizado ao paciente oncológico, além de tudo o que envolve a prática. Rede Santa Catarina: Bom dia, doutor Antônio. Quais são os diferenciais do acolhimento e da humanização que você oferece ao seu paciente durante um tratamento oncológico no Hospital Santa Catarina – Paulista? Dr. Antônio: O ponto principal é que a humanização e o acolhimento precisam ser percebidos pelo olhar do paciente sempre. Para mim, a humanização é entender que o tratamento do câncer envolve diversas etapas e, entre elas, algumas angústias psicológicas, como um procedimento ou quanto ao resultado de uma biópsia. Da perspectiva do próprio paciente, eu vejo que a humanização se dá no cuidado, em saber se ele sente que está sendo levado em consideração como pessoa, uma vez que os pacientes estão carregados de compromissos de tempo e agenda que precisam controlar, como consultas, tratamento, tomografia, biópsia. Ter um time que consiga identificar essas necessidades e ajudá-los nesses momentos mais importantes é um dos pilares da humanização. No fundo, é colocar-se no lugar dele e ver como você gostaria de ser tratado. É necessário compreender a necessidade individual de cada paciente em diferentes momentos do seu tratamento, e isso envolve saber ouvir suas angústias e ter conversas importantes e decisivas para que ele também entenda o que está acontecendo, quais são os seus objetivos e o que importa mais para ele. Às vezes, o que é mais importante do ponto de vista médico pode não ser sempre uma prioridade para o paciente. Rede Santa Catarina: Muitos dos seus pacientes criam uma relação muito próxima com você, seja de amizade, seja de carinho. Qual que é o segredo que você tem com esses pacientes para que eles criem esse vínculo tão forte? Como você transforma a relação médico-paciente em um vínculo mais próximo? Dr. Antônio: Muitas pessoas com doenças crônicas podem dizer a mesma coisa dos médicos que cuidam delas. Como médico, eu tenho que fazer o meu melhor, que é cuidar das pessoas e garantir a cada uma delas a melhor ciência e o melhor resultado. Eu acredito que a escuta atenta pode influenciar no plano terapêutico de um paciente. É muito mais fácil planejar tratamentos, explicá-los, convidar o paciente para participar dessas decisões, então, eu acho que o segredo é esse: esses vínculos se criam nessa escuta e participação, quando conseguimos juntos compartilhar cada situação e, finalmente, traçar um plano de tratamento. Eu, como médico, fico motivado junto com eles para que se recuperem, e eles, como pacientes, seguem confiando nas possibilidades de tratamento em busca da cura, dividindo cada passo, alegria e conquista, como quando fazem um telefonema ou enviam uma mensagem no fim do dia ou fim de semana com aquela notícia tão aguardada que gostariam de informar a mim primeiro, isso é muito gratificante. A gente forma um time, uma parceria para tudo, seja bom ou mesmo ruim, seja algo que faça com que a gente precise reagir ou bolar um novo plano. Rede Santa Catarina: Então, é uma relação de confiança? Dr. Antônio: É uma relação de confiança e reciprocidade. Eu tenho pacientes mais extrovertidos e pacientes mais reservados, e o meu modo de me comunicar com cada um deles é o mesmo. Eu não tenho um estilo diferente para cada um. Quando é preciso dar uma notícia ruim, eu também sinto, mas tento comunicar isso da forma mais leve possível, sem esconder a gravidade das coisas que a gente precisa dizer. Não existe uma fórmula, mas, se eu pudesse dar um conselho, eu diria que ouvir o paciente, dar espaço para que ele possa ficar à vontade e dizer o que o preocupa e o que o angustia é muito importante. Se você não cria esse espaço entre tentar deixar à vontade para perguntar, questionar, pedir para explicar melhor determinado ponto, isso pode ficar perdido na comunicação. Então, uma das coisas que eu aprendi e aprendo com cada paciente é valorizar esses momentos e entender que o cuidado é algo que a gente faz junto. É uma relação de confiança mútua. Uma das maneiras que eu encontro para construir essa relação é falar da minha vida com eles. Assim, por causa de um exemplo, ele comenta alguma coisa sobre a sua família, e eu divido alguma coisa sobre a minha também. Alguns pacientes mais antigos conhecem todos da minha família e perguntam como estão. E eu acho que essa é uma maneira de você diminuir um pouco as barreiras, pois é quando a gente busca esse diálogo mais descontraído, estabelecemos vínculos, e consegue entender melhor o paciente, assim ele acolhe com mais facilidade as orientações sobre seu tratamento. Às vezes, um paciente se desculpa por ter questionado o que eu achava que ele devia fazer, e eu o corrijo, eu digo: “Isso aí é muito importante para você, então, para quem mais você vai perguntar? Você tem que perguntar para mim, mas você também pode ouvir a opinião de outros médicos. Eu posso discutir seu caso com outro colega ou você pode ouvir uma outra opinião caso queira. Você não deve considerar meus sentimentos quando você estiver perguntando coisas sobre a sua doença”. Rede Santa Catarina: Por falar em sentimentos, como que o Dr. Antônio fica pessoalmente ao ter que comunicar uma notícia não tão boa para um paciente com quem ele já tem um vínculo de longa data, de longo tratamento, pincipalmente um paciente que tem uma recidiva do câncer? Dr. Antônio: A primeira coisa que eu penso quando eu recebo o resultado do exame de um paciente que eu vou ver no dia, pode ser uma recidiva ou outra coisa, é que eu prefiro saber antes, porque eu não consigo controlar como eu reajo. Muitas vezes é difícil não ficar revoltado com um resultado ruim ou com uma recidiva de câncer. Quando isso acontece e tenho que comunicar essas notícias ruins, eu vou para casa, lembro das conversas, dos resultados, de coisas e tento raciocinar: “Bom, e o que que a gente faz a partir daqui?”. Eu tenho que me empenhar para cada momento, para poder ter atenção, clareza, estar atualizado, poder discutir com um colega sobre assuntos que, às vezes, eu não domino, poder comparar minhas decisões através das reuniões que a gente faz com muita regularidade, os Tumor Boards, para compartilhar e se aliviar psicologicamente do peso das decisões que a gente está tomando, as quais, muitas vezes, vão gerar consequências. Além disso, também é bom contar com a opinião de colegas em quem você confia. Rede Santa Catarina: Qual é o impacto para um paciente que recebe um tratamento mais humanizado, mais próximo, mais transparente? Qual é o impacto disso tanto para o bem quanto para o mal que você possa enxergar? Dr. Antônio: Se você tem uma comunicação genuína, você tem um espaço para: “Doutor, eu pensei de a gente fazer mais isso, eu estou fazendo isso ou eu li sobre isso, o que que você acha? Eu estou me sentindo assim com esse outro tratamento”. Eu acho que essa comunicação genuína, de duas vias, permite que esses momentos em que o paciente busca alternativas e quer garantir um resultado melhor, com tratamentos não convencionais e não ortodoxos, aconteçam sem segredo, porque ele fica preocupado pensando se aquilo vai atrapalhar ou não. Às vezes, não atrapalha e o faz se sentir melhor. Quanto mais clareza, é sempre melhor. Normalmente isso acontece com pacientes mais idosos, mais frágeis, eles tentam fazer um bloqueio de silêncio que faça com que você não comunique a gravidade daqueles achados e as consequências para a saúde daquela pessoa, muitas vezes esse paciente já intui o que está acontecendo, mas simula para a família que não sabe. O resultado disso é que ele acaba sozinho, sem poder falar das angústias dele sobre as coisas que realmente importam. Eu entendo a necessidade de proteção. A família, muitas vezes, só quer proteger a pessoa do sofrimento, mas o resultado é o oposto. As pessoas acabam mais sozinhas, sem ter com quem falar das preocupações delas, em grande maioria das vezes. Eu não consigo imaginar a situação em que mais clareza, mais comunicação, pode afetar de maneira adversa, pois o ato de se comunicar permite que você esteja por dentro da situação e saiba o que está acontecendo, você não fica no escuro. Então, às vezes, pode ser difícil comunicar uma notícia ruim, mas é necessário. Rede Santa Catarina: Qual é o impacto de receber um tratamento humanizado para o bem-estar de um paciente em tratamento contra o câncer considerando o aspecto físico? Dr. Antônio: Em muitas situações, eu não tenho certeza de que você vai garantir desfechos em relação a curabilidade, recuperação e redução dos efeitos colaterais, mas, cada vez mais, eu tenho percebido o quando o tratamento humanizado promove bem-estar para o paciente. O tratamento do câncer, em especial, gera muita fragilidade, sentimentos de incertezas, medo… Por isso, é essencial que eu, a equipe de enfermagem, toda a equipe de nutrição, farmácia, e recepção estejamos bem em todos os aspectos da nossa vida, porque quando a gente for lidar com os nossos pacientes, a gente tem que estar no nosso melhor, para assim poder oferecer o melhor também em um momento tão difícil da vida deles. É melhor passar por isso com uma atitude positiva, com pessoas em quem você confie, em um ambiente que você considera agradável, onde você se sinta bem, do que o contrário, mesmo que isso não vá afetar um desfecho clínico de imediato. Logo, se eu estou com menos medo, se eu me sinto acolhido, se eu me sinto à vontade, se eu considero esse espaço de tratamento um espaço que também é meu, se as pessoas que estão trabalhando nele também sentem que é um espaço delas, esse paciente tem menos adrenalina, menos cortisol, o sistema imunológico dele pode ficar melhor, ele pode ter menos efeitos colaterais do tratamento, ele pode comunicar com mais clareza e mais à vontade o que ele está sentindo, e isso permite que o tratamento seja mais suave. Um tratamento humanizado e genuinamente individualizado pode trazer ao paciente inúmeros benefícios, como conforto e bem-estar nessas interações, nesses momentos de tratamento. Eu acho que, em si, isso já é um benefício. É melhor passar por isso de um jeito mais alegre e que faça você se sentir melhor, mais confortável e confiante do que o contrário. Rede Santa Catarina: Então, esse tratamento acolhedor é capaz de trazer benefícios durante sua duração? Dr. Antônio: Sim. Traz benefícios mediados na experiência do dia a dia do tratamento, em como você se lembra do tratamento e no quão motivado você se sente para aderir às recomendações e até em como você suporta o processo, pois são tratamentos que, às vezes, trazem alguns efeitos, cada vez menos, mas que geram alguns efeitos colaterais. A cirurgia tem efeitos colaterais, dói depois, o corte e tudo. Com uma atitude humanizada, o paciente consegue compreender melhor esses processos. Por você estar mais motivado, você pode até suportar mais. Agora, quando você está em um ambiente que considera estranho e em que você é tratado com excessiva formalidade ou não está à vontade, a insegurança e o medo podem fazer com que você manifeste mais efeitos colaterais, como enjoo, dor e angústia. Isso fragiliza a pessoa até do ponto de vista psicológico e espiritual. Para lidar com a realidade do tratamento oncológico, não tem outra forma a não ser a humanização. Rede Santa Catarina: Muito bom, doutor. Obrigada.
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